terça-feira, 12 de abril de 2011

Lara e o caderninho



* Por Rodrigo Stüpp 

A Lara e o Davi dificilmente vão se conhecer pessoalmente. Porque ela é uns oito anos mais velha do que ele. Porque ela é espanhola e vive na Europa e ele no Brasil. E porque eu,burraldo, não peguei um contato sequer do pai dela, um francês cabeça aberta que deu um presentão de aniversário àquela loirinha sorridente.

Mas eu acho que eles, de algum jeito, estão ligados. A criação da Lu,de quem sou fã, vai fazer deles pessoas com, no mínimo, duas coisas em comum: paixão pelo desconhecido e uma aversão natural à rotina entendiante.

Lara completou oito anos, e eles foram viajar um mês de trem pela Europa. Nos encontramos na cabine que dividiríamos com um chinês e um coreano. Foi em um trem de Munique, no Sul da Alemanha, até Veneza, na Itália, no meu mochilão de abril de 2010.

Naquele aperto de dois triliches todos foram muito simpáticos. A Lara tinha aquele olhar de criança esperta, curiosa. Quando entrei, estatelou e olhou para o pai, que disse em espanhol

- Muy grande, sí!

Lara não se intimidou com meus 1,90m. Eu sorrii para eles, larguei as minhas coisas e disse que a cama do meu lado seria de um amigo meu, que não conseguiu viajar. Ela poderia escolher a que preferisse.

A espanholinha não deu muita bola. Quando sentei, tirou o caderninho, olhou para o pai, como quem pedia aprovação. Ele só acenou que sim com a cabeça.

Sentou do meu lado, e num inglês perfeito, me perguntou se eu poderia, por gentileza, ajudá-la com seu caderninho de línguas.

Funcionava assim: cada vez que encontrava uma pessoa que de um lugar diferente, que ainda não tinha encontrado, pedia para que escrevesse, de zero a dez, os números na minha língua. A pronúncia também era escrita. 

Lara repetiu fácil, e se animou com a semelhança com o espanhol. Abaixo, deixei um recado, em português e inglês. Não me lembro exatamente das palavras, mas era algo com esse espírito de viajar, conhecer, descobrir e se encantar.

Ela ainda me perguntou algumas palavras em português. Ela conhecia, claro, mas não compreendia como alguém de tão longe de Portugal também falava.

Pensei o óbvio: que coisa boa vai ser conviver com essa menina quando ela decidir sozinha o que quer. Experiências de vida, reflexos, visões de mundo.

Se eu tiver grana, e se eu tiver filho, desculpe amigo espanhol, mas vou querer fazer igual!

* O autor é jornalista, mochileiro convicto e amigo do Crianaestrada


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