* Por Rodrigo Stüpp
A Lara e o Davi dificilmente vão se conhecer pessoalmente. Porque ela é uns oito anos mais velha do que ele. Porque ela é espanhola e vive na Europa e ele no Brasil. E porque eu,burraldo, não peguei um contato sequer do pai dela, um francês cabeça aberta que deu um presentão de aniversário àquela loirinha sorridente.
Lara completou oito anos, e eles foram viajar um mês de trem pela Europa. Nos encontramos na cabine que dividiríamos com um chinês e um coreano. Foi em um trem de Munique, no Sul da Alemanha, até Veneza, na Itália, no meu mochilão de abril de 2010.
Naquele aperto de dois triliches todos foram muito simpáticos. A Lara tinha aquele olhar de criança esperta, curiosa. Quando entrei, estatelou e olhou para o pai, que disse em espanhol
- Muy grande, sí!
Lara não se intimidou com meus 1,90m. Eu sorrii para eles, larguei as minhas coisas e disse que a cama do meu lado seria de um amigo meu, que não conseguiu viajar. Ela poderia escolher a que preferisse.
A espanholinha não deu muita bola. Quando sentei, tirou o caderninho, olhou para o pai, como quem pedia aprovação. Ele só acenou que sim com a cabeça.
Sentou do meu lado, e num inglês perfeito, me perguntou se eu poderia, por gentileza, ajudá-la com seu caderninho de línguas.
Funcionava assim: cada vez que encontrava uma pessoa que de um lugar diferente, que ainda não tinha encontrado, pedia para que escrevesse, de zero a dez, os números na minha língua. A pronúncia também era escrita.
Lara repetiu fácil, e se animou com a semelhança com o espanhol. Abaixo, deixei um recado, em português e inglês. Não me lembro exatamente das palavras, mas era algo com esse espírito de viajar, conhecer, descobrir e se encantar.
Ela ainda me perguntou algumas palavras em português. Ela conhecia, claro, mas não compreendia como alguém de tão longe de Portugal também falava.
Pensei o óbvio: que coisa boa vai ser conviver com essa menina quando ela decidir sozinha o que quer. Experiências de vida, reflexos, visões de mundo.
Se eu tiver grana, e se eu tiver filho, desculpe amigo espanhol, mas vou querer fazer igual!
* O autor é jornalista, mochileiro convicto e amigo do Crianaestrada
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