quinta-feira, 29 de abril de 2010

Libras emocionantes

Hoje eu tô muito emocionada, deve ser a lua cheia, que deixa a gente assim tudo-ao-mesmo-tempo-agora e com uma vontade de viver que não cabe nesses órgãos de sentido que Deus nos deu.

Tá, mas ia dizer que hoje de manhã (e as manhãs e os banhos são um tempo super especial de criatividade-e-conversa-e-observação dos pequenos) a Sara Lee, no seu monólogo matinal, estava com aqueles olhos enormes cheia de gestos pra cima de mim e eu achei graça, bem boba e ingênua. Ela, muito objetiva, perguntou se eu não ia responder:

- Do que você tá rindo? Você não vai responder?
- Responder o que Sara?
- Ué, você não sabe falar em libras mamãe??

Pof, morri.

Sim, eles aprendem a linguagem de sinais na escola. E um dia eu chorei copiosamente quando assisti, numa festa de encerramento de ano, uma sala de 30 crianças sob regência de um professor surdo "cantarem" uma música inteira, em forma de coral, através das libras.

E eu resolvi que sim, eu preciso aprender libras.
Nunca é tarde para aprender libras.
Nunca é cedo para aprender amor.

É surfe merrrmo!!!

O astral do dia é surfe merrmo, um brasileiro acabou de levar o título na terceira etapa do World Tour, circuito que reuniu a elite do surfe mundial aqui do lado de casa, na popular "zimba" (ou Imbituba, SC). É emocionante ver um brazuca (Jadson André) ganhar do Kelly. Tão emocionante quanto ver a molecadinha iniciando na brincadeira, mais que saudável, que une a atividade física ao contato com a natureza. Cria na estrada, que a mãe acolhe!


Davi, 10, Praia Brava. Conectado com o TODO.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sensacional!


Gente, acabo de ler um dos melhores textos já publicados no www.mamiferas.blogspot.com, do qual sou leitora e fã incondicional. Trata da importância das atitudes pensadas e conscientes que tomamos em relação a nossos filhos. Eu também não tenho paciência para dialogar algumas coisas. Uma delas é o tempo certo (se que é existe um tempo certo) para parar de amamentar. O Davi (de quase 1 ano e dois meses) ainda mama e muito escuto por aí coisas do tipo "mas um bebê tão grande ainda mama?", como se houvesse um prazo limite para dar o peito (e todo o carinho, aconchego e anticorpos que vêm junto com ele). Segue então o texto SENSACIONAL e imperdível da Tata (colunista do Mamíferas).

Sobreviver NÃO é o bastante...


Muitas vezes, quando converso sobre criação de filhos, escolhas, caminhos, ouço argumentos do tipo: "ah, meus três filhos nasceram de cesárea e sobreviveram!", "ah, meu filho não mamou nem um mês e taí, firme e forte!!", "ah, eu apanhei dos meus pais quando criança e sobrevivi, não tenho traumas!!", "ah, meus filhos comiam bala, pirulito, refrigerante à vontade e estão aí, vivinhos da silva!!". Perco a vontade de discutir diante de um argumento desses, juro. Tão descabido, tão raso, tão simplório.

Fico me perguntando: sobreviver é o bastante? Na nossa vida diária de escolhas e decisões como pais e mães, nosso parâmetro deve ser apenas optar pelo que não causará lesões óbvias, permanentes e irreversíveis em nossos filhos? Devemos nos contentar em garantir que eles 'sobrevivam' às nossas escolhas e aos caminhos pelos quais os conduzimos?

Sim, bebês nascem de cesáreas desnecessáreas e não morrem por isso. Bebês deixam de ser amamentados, vivem à base de chupeta e mamadeira, são afastados do colo e do carinho de suas mães desde muito cedo, e sobrevivem. Crianças são agredidas física e verbalmente por seus pais e cuidadores, e seguem vivendo. Crianças comem porcarias a torto e a direito, adquirem péssimos hábitos alimentares que os perseguirão pela vida toda, e seguem aí, vivinhos da silva. Crianças são desrespeitadas, negligenciadas, desconsideradas a todo momento, e sobrevivem a tudo isso. Sim, é assim mesmo. Crianças são seres muito resilientes. Eles sobrevivem a quase tudo.

Mas e daí? Isso é o bastante? Para mim, não. Eu não quero fazer escolhas às quais minhas filhas possam simplesmente 'sobreviver'. Não, isso não me basta, eu desejo mais para elas. Eu quero fazer o meu melhor, e não me contento com nada menos do que isso. E não porque elas corram riscos seríssimos de traumatizar-se para o resto da vida ao meu menor deslize ou descaminho, mas porque elas merecem mais do que o mínimo necessário à simples 'sobrevivência'. Elas merecem que eu busque sempre as melhores opções, escolha os caminhos com critério, com consciência, com responsabilidade. Elas merecem que eu opte, questione, reflita, e não siga agindo automaticamente, sem pensar, apenas porque, afinal, 'ninguém morre por isso'.

Acho fundamental que tenhamos em mente que nossos filhos seguirão vivendo, crescendo, se desenvolvendo, saudáveis e felizes, mesmo que a gente não consiga fazer o ideal 100% do tempo (e alguém consegue??). Mas acho igualmente importante que a gente não transforme essa idéia em muleta, para se acomodar e deixar de dar o melhor de si a cada momento, porque afinal, seja como for, 'eles vão sobreviver'.

Eu não quero ser uma mãe perfeita, sei que erro, já errei e ainda vou errar muito, porque faz parte da caminhada. Mas meu coração está tranquilo, porque sei que todas as vezes que cometi um erro, foi procurando acertar. Sei que errei tentando fazer o melhor, e não por omissão, por desistência ou por achar que encontrar a melhor opção não fosse assim tão importante.

E não me permito esquecer, nem por um instante, que todas as atitudes que eu tomo terão consequências, sim. Porque todas as pequenas vivências do dia a dia vão fazendo da criança o indivíduo que ela será, no futuro. Isso não significa neurotizar a convivência e viver medindo palavras e atitudes a cada segundo, nem fazer da vida diária um ambiente milimetricamente planejado e controlado para evitar traumas futuros. Significa apenas estar consciente da responsabilidade que o papel de pais nos traz, a todo momento.

Eu não abdico dessa responsabilidade. Porque para mim, sobreviver não é o bastante, nem nunca será. E pra você?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um quintal


Não tem como a gente guardar tudo que lê não é mesmo? Nem na cabeça, nem em prateleiras. Se vocês forem como eu, que não pode ficar à toa e já está procurando alguma coisa pra decodificar, fica difícil. Hoje o mundo tem muita informação, dentro disso, muita inutilidade, o que representa um risco incalculável de perda de tempo.

Mas também tem muita coisa legal e que dá vontade de compartilhar. Essa semana estava na manicure e li um artigo muito bom da Danuza Leão na revista Cláudia, que acho uma pobreza de espírito com aqueles manuais de enlouquecer seu homem na cama e 15 maneiras de ficar ‘sequinha’ pro verão. Mas sempre tem algo que dá pra garimpar, nesse caso o artigo da Danuza, de quem virei simpatizante e fã desde que li seu livro autobiográfico.

A internet colabora. Cheguei na redação, busquei no google (vanusa leão - quintal), encontrei e agora posso mostrar aqui pra quem não leu. Me identifiquei bastante, muito feliz, por ter um quintal de terra batida pras crias lembrarem daqui uns anos, quintal que vai fazer parte da sua mochilinha de ferramentas pra vida. E tem as coisas essenciais que ela cita, um abacateiro, uma goiabeira, árvores que não parecem ter sido plantadas mas sempre existido. Tem também pica pau e seu rastro de buracos simétricos e perfeitos no tronco de um ingazeiro. E uma coruja que senta no poste de luz. Uma família de aracuãs, pai, mãe e filho. Formigas. Insetos de todas as formas e tamanhos. E piolhos de cobra. E mosquitos, muitos. Lagartixas, gordas. Tem bananeira e bambu, deve ter cobra. Tem um balanço de corda e madeira e muita folha seca. Tem uma ducha pra lavar o pé, e tem as porcarias. Até uma quadra de basquete improvisada, segundo meu amigo Jota, ideal pra jogar ‘21’. Tem silêncio, luar, e nascer do sol, estrelas e céu rosa, nessa que é a época mais linda do mundo. Tem amigos, e crianças imundas e sorridentes correndo até anoitecer. Tem barulho de mar, tem barulho de vento, e tem também o entra e sai na correria para fazer as coisas do dia a dia, mas sempre tem o chegar em casa, bom, independente da hora. Tem o acordar sem pressa, e o mate argentino. Tem noite de queijos e vinhos, pizzada integral e um canto pra se esconder quando precisa ficar sozinho.

A gente sabe que não pode se apegar, expansão imobiliária, Praia Brava sendo engolida pelos gigantes, mas esses momentos-presentes que ficam pra sempre são presentes pra vida. Um dia tudo vai estar diferente, mas o que é de valor tá impresso na alma.
Só não tenho as galinhas, e se tivesse, não ia rolar o ritual da empregada matando e tirando as penas para fazer peteca.
Segue o texto então. Pensem em um quintal, e pensem na importância que as coisas vividas na infância têm pro resto da nossa existência.

Um quintal
Danuza Leão
Quando uma pessoa começa a melhorar de vida, pensa logo em comprar uma boa casa. E o que é uma boa casa? É preciso um jardim e uma piscina, imaginam os pais. Eles querem para as crianças uma infância saudável, com confortos que nunca tiveram, mas não pensam no principal: um quintal. Um quintal não precisa ser grande, e o chão deve ser de terra batida. Nele deve haver algumas árvores que não pareçam ter sido plantadas, mas sempre existido. Um abacateiro e uma goiabeira, de goiaba vermelha, são fundamentais. No fundo, um galinheiro tosco, com uma porta quebrada, para que as três ou quatro galinhas possam correr quando alguém quiser pegá-las. Nenhum computador levará uma criança ao deslumbramento que ela terá ao encontrar um ovo e segurá-lo, ainda quentinho. É o mistério da vida nas mãos dela, mais absoluto e mais simples do que qualquer livro de filosofia.
Um dia, a cozinheira avisa que vai matar uma galinha para o molho pardo. Os meninos pedem para ver a cena trágica; a mãe não quer, mas a empregada, acostumada, com o facão na mão, facilita. Se a galinha tiver dentro da barriga aquele monte de ovinhos, aí a lição de morte – e de vida – será ainda mais completa. E mais lições serão aprendidas quando alguém sugerir fazer uma peteca com as penas mais duras e algumas palhas de milho. Mas será que alguém sabe do que estou falando?
Voltando: esse quintal deve ser meio abandonado, mas muito limpo; duas vezes por dia a empregada, cantando bem alto, dá uma varrida. É importante também que haja um tanque para lavar o pé de alguma criança quando ela pisar descalça numa porcaria, e um varal com pregadores de roupa de madeira. Nesse lugar, não vai ter horta nem pomar organizado. Em compensação, é bom que exista do outro lado do muro uma enorme mangueira para que se possa praticar o melhor crime do mundo: roubar as frutas do vizinho. Nos fundos de um quintal, deve haver também uma touceira de bananeiras ou bambus e, claro, um adulto dizendo sempre para tomar cuidado, pois ali pode ter uma cobra. Não há infância que se preze sem medo de cobra. Quando as goiabas começam a crescer, fica todo mundo de olho até a primeira delas estar no ponto para ser arrancada e mordida ali mesmo, sem lavar. E que sensação terrível quando se vê o bicho da goiaba se mexendo. Aí, sem que ninguém precise dizer nada, você começa a aprender que a vida é assim: ou se compra uma goiaba bonita, mas sem gosto, ou se espera com paciência ela amadurecer no pé até desfrutar o supremo prazer de dar aquela dentada – com direito a bicho e tudo.
Mas o tempo voa. De repente você se sente só, abre o caderno de telefones e percebe sua pouca afinidade com os nomes que estão lá, que tem vivido uma vida que não tem nada a ver e começa a procurar um sentido para as coisas. Não encontra resposta, claro, mas um dia está no trânsito, vê um terreno baldio, se lembra daquele quintal no qual não pensa há anos e percebe que essa é a lembrança mais importante e mais feliz de sua vida. E passa a olhar o mundo com a superioridade de quem tem um tesouro guardado dentro do peito, mas ninguém sabe.


Danuza Leão é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pra compensar










...a promessa que mal fiz e já descumpri. Vai a seleção de fotos do dia, e uma saudade enorme de tudo que já vivi -e do que não vivi também. Amo!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sobre medos de voar






Em 10 de setembro de 2007, escrevi o texto "Você tem medo do quê?" no meu blog pessoal. Acho ele sempre atual, atualíssimo, cada vez mais. No domingo de sol lindo, levamos o Davi para ver os parapentes no céu multicolorido do Morro do Careca, na Brava. Lembrei mais uma vez do textinho e decidi republicar.

"VOCÊ TEM MEDO DO QUÊ?"

Domingo, fomos no Morro do Careca ver esta gente bronzeada mostrar seu valor e voar de parapente. Eu já voei com o Xixi, em vôo duplo, há mais de 10 anos. Que sensação livre a de voar, vento batendo no rosto, o mar lá embaixo, o céu azulzinho ao fundo...

Enquanto os corajosos contemplavam a natureza flutuando, os comentários vazavam no topo do morro : "Nossa, eu não vou nisso nem morta", ou então "Eu não deixo o Pedrinho ir nisso nunca". Enquanto isso, duas meninas faziam um vôo triplo com um instrutor de parapente. E se divertiam, dando risadas como esboços claros de felicidade. Eu achei aquilo o máximo. Ou melhor, achei os pais das crianças o máximo. Que coisa linda, permitir que os filhos experimentem sensações diferentes, estimulá-los a vencerem seus medos e instintos ao invés de impor limites na alma.

Vocês já perceberam na quantidade de adultos medrosos que há no mercado? Medo de andar de avião, medo de andar de barco, de perder o emprego, de ficar sozinho, medo do escuro, da noite, do dia, de comer leite com manga... Medo também de mandar para as cucuias o seu bem sucedido emprego no Banco do Brasil para abrir uma lojinha de artesanatos açorianos no Ribeirão da Ilha. E ser feliz! Ser feliz é para hoje, não é para amanhã e nem para quando eu me aposentar.

Quando eu tiver filhos (E AGORA EU OS TENHO), vou tentar fazer com que vençam seus medos das mais variadas formas. Para que sejam seres humanos seguros e plenos, de olhos e peito abertos para a vida. Se quiserem, vão tomar banho de chuva, vão andar descalços, vão fazer trilha no mato, pisar na roseta, chorar de dor, criar anticorpos, saltar de parapente...Vão se permitir! Sempre que puderem e quiserem.

E você, tem medo do quê?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tem tanta, mas tanta, tanta, tanta coisa pra contar aqui nesse crianaestrada que vou te contar. Só que como a gente quase não é ocupada, e a vida acontece de verdade 'fora da caixa', acaba ficando pra depois, e muita coisa legal passa batida. Com as fotos a mesma coisa, são milhares -não é brincadeira- e cada uma traz lembranças e sensações únicas, um medo, uma vontade de viver, uma aflição, uma gratidão. Criaturas lindas, vivas e pulsantes que nos escapam dos dedos... não é esse o objetivo? Ensinar os filhos a voar, (e não sustentar o vôo, ou pior, botar debaixo da asa). Vou me propor um desafio pessoal, postar a cada dia a foto do dia, antigas ou recentes, aquela que traz o que estou sentindo hoje. Vai ser difícil escolher, mas vou tentar ser meio inconsciente. Sabe que essa brincadeira podia virar livro?



Davi, 10. Desafio.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Tradições


Gosto das tradições. Dos conceitos, costumes e visões de mundo passados de pai para filho e que identificam uma família, um povoado, uma região. Quando estamos longe de casa, sensíveis e saudosistas, são elas – as tradições - que nos identificam, nos dão referência e matam nossa saudade.

No feriado de Páscoa, pudemos exercer um pouco disto com o Davi, de 1 ano e 1 mês. Na verdade, o Adão (que está a quase 1 mil quilômetros da casa de origem) pôde exercer isso com o nosso pequeno. Como manda a tradição do Sul do Rio Grande do Sul, comemos carne de ovelha no sábado de Aleluia e tomamos chimarrão ao redor da mesa enquanto a carne assava no fogo lento. Foi a primeira vez que o Davi tomou mate. Gostou. Mas gostou TANTO que não queria devolver a cuia por nada neste mundo. Mesmo quando a água acabou, queria brincar com a bomba, pegar a erva na mão, fazer bagunça com todas aquelas novidades. Tudo devidamente registrado em fotos e vídeos, é claro.

É bom ter raizes e histórias para contar aos filhos. Aqui em SC (ou pelo menos em Balneário Camboriú), não temos nada tão específico quanto a tradição gaúcha (ou mineira, ou nordestina ou amazônica). Enquanto o Adão passa um pouco deste amor pela terra dele, tentarei transmitir ao Davi a minha verdadeira paixão por andar por este mundão de Deus, descobrindo horizontes, rostos, sotaques, pessoas, e comidas diferentes. É a minha tradição: botar o pé na estrada! E a partir de agora o levarei junto comigo sempre que eu puder e o tipo da viagem permitir.

Viva as tradições, o mate, o RS, o Brasil, o mundo inteiro. Viva as estradas, os sonhos e as possibilidades de nos espelharmos nos pequenos, mas principalmente em nós mesmos.

(P.S: Sou a favor das tradições desde que positivas. Não concordo nem um pouco com pescadores do litoral catarinense incentivando seus pequenos a correrem (e maltratarem) atrás dos bois na Quaresma... Ou seja, tudo é relativo!)





Ps da Carol: tava aqui tomando um mate matutino quando abri o post da Lú e não resisti, botei fotinhas, as que encontrei, porque tem tantas, mas tantas! Mate sempre presente, e viva nossas raízes! Amei Lú. E olha que interessante, sem querer botei a Sara Lee bebê tomando chima com a vó, e depois, aos 4 anos, na cuia da aboela argentina, com erva argentina. Raízes que se encontram. Belíssimo!


segunda-feira, 12 de abril de 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Do Zero


Deu até uma vergonhinha básica no início do “Zero” outro espetáculo trazido pelo Sesc, que sempre tem menos gente do que deveria, no Teatro de Itajaí. Papi e mami cheio de dedos e certezas apontavam para o protótipo de bebê-criança-ser-descobrindo-o-mundo esbravejando todas aquelas frases feitas que pronunciamos sem nem perceber mais: “você acha que a vida é brincadeira? não é não meu filho!”; vai fazer suas coisas e, vez de ficar aí com a cabeça na lua” e outras do tipo.

Péssimo quando alguém nos mostra, ou melhor, excelente quando alguém nos mostra, de forma sutil, como nós erramos todo dia. E quer prato mais cheio pra erro do que criar filho? É um banquete, que se perpetua por gerações. Indigesto.

Por outro lado, os filhos nos obrigam a olhar pra nós mesmos. Transparecem a consequência do nosso comportamento. Dos nossos valores. Da nossa forma de enxergar e se posicionar no mundo. Eles nos obrigam a nos rever, a investigar, a remexer o fundo. É fácil ser sozinho, difícil é se relacionar. Ter o compromisso de assumir os atos, de assumir as ausências e as falhas.
Hoje acho engraçado quando vejo as mães de primeira viagem preocupadas com a cor do enxoval e os cuidados com o recém nascido. Mal sabem que está recém nascendo uma tarefa que pode ter sido adiada, mas que uma hora chega.
E que hora! Junto com uma coisinha que chora, faz coco e mama, junto com seios inchados de leite, junto com confusões hormonais que assemelham-se a bombas atômicas, junto com a mulher, a profissional, a esposa, a do lar, a bailarina-que-devia-ter-sido, a vontade-ainda-de-fazer, a menininha, a escritora, a que tem dúvidas, a que quer ser mil. E uma. Isso é hora pra saber quem eu sou e a que vim?

Estreita é a porta e difícil é o caminho, porque dá um trabalho desgraçado e é doloroso jogar fora algumas coisas, buscar outras, formando um composé do que realmente tem valor e nos serve. Não é opcional, tem que encarar e pronto.
Voltando ao Zero, do Ex pressinha on line:

Excelente o espetáculo trazido pelo Palco Giratório do Sesc. Já ouvi de artistas que o ritmo desse Palco Giratório é pesado, viajam para várias cidades, numa rotina meio exaustiva de apresentações, tudo pra ficar mais econômico pra quem banca. Tipo, dorme como dá, come dá, hoje aqui amanhã acolá, mas no palco precisa ser cem por cento.
Se a dupla da Cia Mevitevendo, de São Paulo, estava cansada não deu pra notar. O que se viu é uma sintonia perfeita entre gentes e bonecos, dando pernas e braços e vozes para que eles ganhassem vida. De verdade! Irretocáveis o enredo, o figurino, a iluminação, o cenário, e a arte na essência.

Senhor Z, um velho ranzinza (- Bom dia por quê?) pra quem a vida não teve graça e tudo é ruim, tudo é chato, tudo é tédio. Uma criança que não pôde ser? Adultos nervosos que esqueceram de dar espaço? E alguém que cresce sem a brincadeira e o lúdico, sem ver a beleza do todo-dia-é-dia, alguém pra quem o fardo de viver é pesado demais. Sem música, sem dança, sem prazer e sem deleite. Sem riso!
E de repente um vislumbre de felicidade, e de repente um aprisionamento dessa sensação e a vida se esvai novamente, fica presa na gaiola. Numa batalha com a morte, (ma-ra-vi-lho-sa!), a vontade de continuar; metáfora perfeita da vida aqui fora, onde a gente precisa perder, ou quase perder, pra querer de volta, valorizar, se agarrar com unhas e dentes e ver que tudo mais é minúsculo e insignificante perto da imensidão de vida.
E finalmente a gente se permite rolar no chão, dar risada e ficar mais à vontade, sem todos aqueles tem-que-ser-assim que o mundo adulto conhece tão bem. Morrer pra renascer. Morrer todos os dias pra desanuviar a cuca. Pra ser. E principalmente, pra evitar de empurrar goela abaixo em pequenos grandes seres a máxima “você pensa que vida é brincadeira?”

Caramba, e como é!

Crianças, DEFENDAM-SE! Não deixem que papai e mamãe convençam vocês do contrário. Vida é delícia, é diversão, e problema é crescimento. O resto é resto. Sem peso. Começando do Zero. Todo SANTO dia.

PS - Aproveito o tema para agradecer ao Davi Antonio, que completou 10 outonos, por ser meu pequeno grande mestre e estar compartilhando desse tempo comigo, me ensinando a ser mais gente a cada dia. Ainda demora, mas um dia chegamos lá. Beijoca amore, te amo dum tamanho assiiim ó.

* texto publicado na coluna Ex pressão, que a autora assina semanalmente no jornal Página3.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Década de vi da

Davi Antonio completou dez, e eu tenho tanta-coisa-pra-dizer que nem-sei-o-que-digo. Tem horas que é melhor calar, e só sentir. Na estrada.



coelhinhas

Sara Lee, 4, e Rayara Lua, 2, coelhinhas em momento toca-escola.