terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ver o mundo duas vezes!

Viajar com as crianças não é só levar para passear. É ter possibilidade de enxergar o mundo duas vezes, sob dois pontos de vista bem diferentes, o seu e o da criança. Se for com mais de um filho então, esta possibilidade triplica, quadruplica.

Claro que é necessário mais tempo, mais paciência (afinal, crianças andam mais devagar para observarem TUDO no caminho e não perderem nada), e mais dedicação. Mas elas são infinitamente mais atentas do que nós aos detalhes, mais abertas ao novo, menos consumistas.



Viajar é uma das maneiras mais eficientes de educar, de ensinar ecologia, companheirismo, diferenças de mundo e respeito ao próximo. O cenário que muda diariamente, os diferentes idiomas, sotaques, moedas, culinária, vestimentas, costumes. Elas captam cada energia do que vêem pela frente, com os cinco sentidos muito atentos, interpretando sem parar.

Os momentos mais felizes que tenho da infância são os das viagens com meus pais, o nariz espalmado na janelinha do carro e do avião, com os olhos atentos no que estava por vir.



É como diz a Carol, tem MUITA COISA NESTE MUNDO que os filhos precisam ver. O Alaska por exemplo. Planejava ir até 2012, no máximo. Mas já decidi adiar a viagem alguns anos para que o Davi vá comigo e lembre mais tarde do que viu. Para entender a força e a beleza daquilo tudo. Se eu fosse sem ele, me arrependeria para o resto da vida. Certeza! É um dos lugares deste mundo que PRECISAMOS ver juntos, lado a lado, companheiros de viagem.

Lindo o texto do Pablo Buciarelli. Lindo o sonho de levar os filhos para a trilha inca. Linda a lucidez de saber o quanto isso é importante para a formação deles, para as lembranças de vida, para a arte de respirar o universo. Sejamos mais “estrangeiros” neste quesito. Em qualquer destino de viagem, é comum ver bebês colo, nos slings com os pais, felizes da vida, sem complicações. Há sempre uma minoria de brasileiros com seus pequenos. Acham “incômodo” viajar com crianças. É cultural.

Sejamos mais crianaestrada. Em qualquer idade. ;-)





segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ó!

Coincidência (existe?), no mesmo dia que postei aqui o "crias em casa, provação", Pablo Buciarelli, de Sampa, escreveu no Extremos o texto "Eu, Manu e Caio na Trilha Inca". Clica pra ler. Viu só? Vale dar uma olhada na experiência do trio, que percorreu a mais tradicional trilha de acesso ao Machu Picchu. Ainda acho que vale mais Salcantay, menos gentes, mais roots, e a possibilidade de percorrer a cavalo a pior subida (vai a 4.600 de altitude). É uma passagem rápida e indolor, rs.

Destaco essa frase do texto do Pablo, que tem a ver com o que escrevi no post anterior:

"No ano de 2000, ao realizar o Caminho Inca pela primeira vez, no último trecho entre Wiñaywayna e Machu Picchu, saindo por volta das 5 horas da manhã, cruzei com um pai e seu filho nas costas. Isso me tocou de uma forma tão profunda, que não conseguia sossegar enquanto não voltasse para a região acompanhado dos meus dois "piolhentos". Certamente, hoje posso morrer feliz, pois o sonho mais inusitado que tinha em mente foi realizado."

Parabéns e vamo que vamo!

POST EDITADO!
A Lú leu o texto do Paulo e destacou outros trechos. Segue:


"Saber viver a vida é o único legado que irei deixar para amigos e filhos. O estilo de vida que levo é o único investimento que faço, pois é certeza de retorno na educação dos meus filhos e na vivência que irei ter nessa vida."
 
"A sensação de evoluir no caminho rumo à Machu Picchu era de um grau enorme de emoção e satisfação. Chorei por diversas vezes sozinho e em silêncio. No ano de 2000, ao realizar o Caminho Inca pela primeira vez, no último trecho entre Wiñaywayna e Machu Picchu, saindo por volta das 5 horas da manhã, cruzei com um pai e seu filho nas costas. Isso me tocou de uma forma tão profunda, que não conseguia sossegar enquanto não voltasse para a região acompanhado dos meus dois "piolhentos". Certamente, hoje posso morrer feliz, pois o sonho mais inusitado que tinha em mente foi realizado."
 
- "Bem aventurados são aqueles que vivem para seus espíritos, e deixam na sua história de vida a marca de uma herança rica de valores para os seus queridos, sejam eles amigos, irmãos, pais, filhos, amantes, sejam eles apenas admiradores."(ESTE TRECHO AQUI MATOU A PAU)
 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Crias em casa, provação

Um problema de viajar com criança é grana. Criança paga que nem adulto em qualquer lugar. Pra filho de jornalista com professor tem que planejar muito pra conseguir juntar e ficar uns poucos 20 dias, esticando bem, na trip. Dá pra economizar; usar barracas, fazer a própria comida, evitar centros muito urbanos e turísticos. Mas se vive muito bem com muito pouco, e quanto mais acostumar os pequenos com esse estilo de vida, no dia a dia, em casa, mais fácil fica levá-los a tiracolo pro mundo. No caso da viagem pra longe, a grande despesa são as passagens aéreas. Estar lá, se manter, é fácil, o difícil é ir. É a afirmação plena dos governos dizendo pra gente: "Seus trouxas! Metade do que vocês ganham com suor e batalha, é nosso!" Imposto é absurdo.

Sempre melhor cria na estrada junto, mas cria em casa esperando também tem suas vantagens:
  • Os pais podem exigir-se mais fisicamente, testando os próprios limites;
  • Menos gente, menos diferenças de humor; 
  • E a saudade. Saudade alimenta a importância que o outro tem pra nós.
Só essas. Porque é milhão de vezes mais difícil pro mental. Saudade dói, e se dói! E a sensação de estar vivendo uma coisa maravilhosa, e querer que quem você mais ama esteja junto, é terrível quando não concretizada. Uma provação pra mente, uma mistura de arrependimento, com devia-ter-dado-um-jeito, com eles-precisavam-muito-ver-isso, com a incerteza de um dia poder voltar. A vida é assim.

Sem poder perder a chance de Peru e Bolívia, com pouquíssima grana, fomos nós, eles ficaram. Foi a primeira vez. Tanto tempo. Dezessete longos dias, caminhando dia e noite, com o coração apertado e uma certeza gigante de querer junto, de querer bem, de amor em sua plenitude. Amor sem tirar nem pôr.

Nem é preciso dizer sobre a vontade de voltar, nos exatos mesmos lugares, pra compartilhar os olhares infantis. E agora, a gente tá em casa. Em meio a uma das trilhas - Machu Picchu, por Salcantay, 5 dias e 4 noites- já fazíamos o planejamento de como seria na próxima, com as crias. É possível. É possível MESMO. Você tem que adequar o ritmo, e as condições (alugar cavalos por exemplo), ter um pouquinho mais de paciência, roupa quente e comida. O resto é resto. Aliás, o resto é imensidão.


Sofrimento é bom pra mostrar que a gente aguenta. E como. Temos uma força que desconhecemos, que só aparece quando exigida. Pero... pra evitar transtornos e desmoronamentos, lá pelo terceiro, quarto dia, cada vez que via família com criança, Denis, meu companheiro, me apontava algo no céu ou no outro lado pra desviar minha atenção. Sem chance. Instinto materno como um imã, e rola lágrima no rosto. Sem desespero. Só saudade, sabe?


Oi vida.


Você não diria que seus filhos PRECISAM ver isso?
Sim, eles precisam.
Eu choro de emoção, de alegria, de esperança de um mundo possível.



... um mundo mais simples, mais sincero, mais momento presente.
Família 1, franceses: pai, mãe, filha de uns 14, filho de uns 12. Se revezaram com os dois cavalos e com as oito pernas... 
Família 2, franceses também. O casal fez o percurso uma vez sozinho e estava repetindo com as crias, um de onze, um de catorze, que estavam estudando inglês e começando no espanhol. Cultura da mochila.

Se alguém precisar dicas sobre o percurso só pedir. É tranquilo. Se eu pudesse dar um conselho seria, DÊ UM JEITO de levá-los. Se eu pudesse voltar atrás teria vendido alguma coisa desnecessária de casa (temos tantas!!!), pedido aos avós de presente de Natal; feito bingo na escola. Ter menos pra viver mais. E se a gente começar agora, nesse exato momento, não consegue ver tudo. Desapega de pequenas coisas, de acumular tranqueiras, pra alcançar um bem maior: estar na estrada, só estar, sem querer chegar, curtindo o caminho... e educando os pequenos na prática. 

domingo, 19 de setembro de 2010

Aaaaahhhh, que saudade de postar!




Gente, eu (e a Carol também) estava com saudades de postar por aqui. Primeiramente, iriamos mudar de endereço mas vimos que ficar onde estávamos era melhor. A vida, às vezes, é assim mesmo, né? A gente precisa sair, ver o novo, ver o que serve, o que não serve, para depois mudar (ou não).

Nestes quatro meses teve tanta criaestrada. A própria Carol virou crianaestrada total. CAROL CADÊ AS FOTOS DE CRIAS PELA ESTRADA???? Vamos tirar o atraso. Vamos voltar aos sentimentos do dia. Vamos voltar aos textos, às fotos, à necessidade de se expressar, de respirar, de se agitar!

Estamos de volta. Mais do que nunca. Agora e sempre!